quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Figuras de Linguagem

Figuras de Linguagem são recursos que tornam o texto mais vibrante, mais atraente e mais belo para o leitor.
Elas são subdivididas em:
a)    Figuras de palavras;
b)    Figuras de construção ou sintaxe;
c)    Figuras de pensamento.

Figuras de Palavras: Faz-se uso das figuras de palavras quando estas estão empregadas com um sentido diferente do habitual. São elas:

Comparação: Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - e alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.

Exemplos: "Amou daquela vez como se fosse máquina. / Beijou sua mulher como se fosse lógico." (Chico Buarque);

"As solteironas, os longos vestidos negros fechados no pescoço, negros xales nos ombros, pareciam aves noturnas paradas..." (Jorge Amado).

Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido.

Exemplo: "Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão." (Machado de Assis).

Catacrese: A catacrese é um tipo de especial de metáfora, "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito estilístico." (Othon M. Garcia).

São exemplos de catacrese: folhas de livro / pele de tomate / dente de alho / montar em burro / céu da boca / cabeça de prego / mão de direção / ventre da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco.

Metonímia: Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, real, realizando-se de inúmeros modos:

- o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de sair, tomamos um cálice (o conteúdo de um cálice) de licor.
- a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o operário ia / Com suor e com cimento (com trabalho) / Erguendo uma casa aqui / Adiante um apartamento." (Vinicius de Moraes).
- o lugar de origem ou de produção pelo produto: Comprei uma garrafa do legítimo porto (o vinho da cidade do Porto).
- o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a obra de Jorge Amado).
- o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com o seu coração (sentimento, sensibilidade).
- o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o poder) foi disputada pelos revolucionários.
- a matéria pelo produto e vice-versa: Lento, o bronze (o sino) soa.
- o inventor pelo invento: Edson (a energia elétrica) ilumina o mundo.
- a coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura (ao edifício da Prefeitura).
- o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo (guloso, glutão).

Antonomásia: Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue.

Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome próprio.

Exemplos: Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O poeta dos escravos (= Castro Alves) / O Dante Negro (= Cruz e Souza) / O Corso (= Napoleão)

Perífrase: É a substituição de um nome comum ou próprio por um expressão que a caracterize. Nada mais é do que um circunlóquio, isto é, um rodeio de palavras.

Exemplos: astro rei (Sol) | última flor do Lácio (língua portuguesa) | Cidade-Luz (Paris) | Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro).

Sinestesia: A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).

Exemplo: "A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal." (Augusto Meyer)

Eco: O Eco é a reiteração de sons no final de palavras; é um tipo de rima que pode ocorrer no interior ou no final do verso, dando-lhe uma sonoridade que atinge todo o poema.


Exemplo: “... é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita, perfeita...” (Guilherme de Almeida)

Aliteração: Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra.

Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na janela." (Chico Buarque).


Assonância: Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.

Exemplo: "Sou Ana, da cama / da cana, fulana, bacana / Sou Ana de Amsterdam." (Chico Buarque).


Onomatopeia: Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som.

Exemplo: "O silêncio fresco despenca das árvores. / Veio de longe, das planícies altas, / Dos cerrados onde o guaxe passe rápido... / Vvvvvvvv... passou." (Mário de Andrade).

"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno." (Fernando Pessoa).

Figuras de Construção ou Sintaxe: Essas figuras relacionam-se à organização sintática da oração, no que se refere à posição dos termos, à concordância. São elas:

Elipse: Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo.

Exemplo: "Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas." (elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias...).

Zeugma: Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.

Exemplo: "Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários dos Felipes." (Zeugma do verbo: "e foram assassinados...") (Camilo Castelo Branco).

Pleonasmo: Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado.


a) Pleonasmo literário:

É o uso de palavras redundantes para reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.

Exemplo: "Iam vinte anos desde aquele dia / Quando com os olhos eu quis ver de perto / Quando em visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira).

"Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)
"Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal" (Fernando Pessoa).

b) Pleonasmo vicioso:

É o desdobramento de ideias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma ideia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.

Exemplos: subir para cima / entrar para dentro / repetir de novo / ouvir com os ouvidos / hemorragia de sangue / monopólio exclusivo / breve alocução / principal protagonista.

Hipérbato: Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.

Exemplo: "Passeiam à tarde, as belas na Avenida. " (As belas passeiam na Avenida à tarde.) (Carlos Drummond de Andrade).

Silepse:Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a ideia a elas associada.

a) Silepse de gênero: Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).

Exemplo: "Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito." (Guimarães Rosa).

b) Silepse de número: Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).

Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam." (Mário Barreto).

c) Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.

Exemplo: "Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas." (Machado de Assis).

Assíndeto: Ocorre assíndeto quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem justapostas ou separadas por vírgulas.

Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).

Exemplo: "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se." (Machado de Assis).

Polissíndeto: Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção “e”). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.

Exemplo: "Vão chegando as burguesinhas pobres, / e as criadas das burguesinhas ricas / e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza." (Manuel Bandeira).

Anacoluto: Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a sequência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos - que não apresentam função sintática definida - desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa sensível.

Exemplo: "Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas." (Alcântara Machado).

Anáfora: Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.

Exemplo: "Depois o areal extenso... / Depois o oceano de pó... / Depois no horizonte imenso / Desertos... desertos só..." (Castro Alves).

Figuras de Pensamento: Constituem-se em alterações no emprego normal das palavras, conforme a intenção do emissor, buscando dar um novo dimensionamento à frase. São elas:

Ironia: Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.

Exemplo: "Moça linda, bem tratada, / três séculos de família, / burra como uma porta: / um amor." (Mário de Andrade).

Hipérbole: Ocorre hipérbole quando há exagero de uma ideia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto.

Exemplo: "Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac).

Eufemismo: Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.

Exemplo: "E pela paz derradeira (morte) que enfim vai nos redimir Deus lhe pague". (Chico Buarque).


Antítese: Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.

Exemplo: "Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal." (Rui Barbosa).

Paradoxo: Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na de ideias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é outra designação para paradoxo.

Exemplo: "Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer;" (Camões)

Apóstrofe: Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é utilizada para dar ênfase à expressão.

Exemplo: "Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?" (Castro Alves).

Prosopopeia: Ocorre prosopopeia (ou animização ou personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários.

Também a atribuição de características humanas a seres animados constitui prosopopeia o que é comum nas fábulas e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: "O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico..."

Exemplos: "... os rios vão carregando as queixas do caminho." (Raul Bopp)
Um frio inteligente (...) percorria o jardim..." (Clarice Lispector)

Gradação: Ocorre gradação quando há uma sequência de palavras que intensificam uma mesma ideia.

Exemplo: "Aqui... além... mais longe por onde eu movo o passo." (Castro Alves).

Referências Bibliográficas:
CASTRO, Maria da Conceição. Língua e Literatura. São Paulo: Editora Saraiva, 1998.

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