sábado, 25 de fevereiro de 2012

Redação oficial: como não se deve escrever.

O que evitar em redações oficiais:
Na obra de Adriano da Gama Kury, consta o quadro abaixo, a partir do qual podem ser feitas inúmeras frases, combinando-se as expressões das várias colunas em qualquer ordem, com uma característica comum: nenhuma delas tem sentido! Este quadro tem a função de sublinhar a maneira de como não se deve escrever!

Como não se deve escrever:
COLUNA A
COLUNA B
COLUNA C
COLUNA D
COLUNA E
COLUNA F
COLUNA G
1. A necessidade emergente
se caracteriza por
uma correta relação entre estrutura e superestrutura
no interesse primário da população,
substanciando e vitalizando,
numa ótica preventiva e não mais curativa,
a transparência de cada ato decisional.
2. O quadro normativo
prefigura
a superação de cada obstáculo e/ou resistência passiva
sem prejudicar o atual nível das contribuições,
não assumindo nunca como implícito,
no contexto de um sistema integrado,
um indispensável salto de qualidade.
3. O critério metodológico
reconduz a sínteses
a pontual correspondência entre objetivos e recursos
com critérios não-dirigísticos,
potenciando e incrementando,
na medida em que isso seja factível,
o aplanamento de discrepâncias e discrasias existentes.
4. O modelo de desenvolvimento
incrementa
o redirecionamento das linhas de tendências em ato
para além das contradições e dificuldades iniciais,
evidenciando e explicitando
em termos de eficácia e eficiência,
a adoção de uma metodologia diferenciada.
5. O novo tema social
propicia
o incorporamento das funções e a descentralização decisional
numa visão orgânica e não totalizante,
ativando e implementando,
a cavaleiro da situação contingente,
a redefinição de uma nova figura profissional.
6. O método participativo
propõe-se a
o reconhecimento da demanda não satisfeita
mediante mecanismos da participação,
não omitindo ou calando, mas antes particularizando,
com as devidas e imprescindíveis enfatizações,
o co-envolvimento ativo de operadores e utentes.
7. A utilização potencial
privilegia
uma coligação orgânica interdisciplinar para uma práxis de trabalho de grupo,
segundo um módulo de interdependência horizontal,
recuperando, ou antes revalorizando,
como sua premissa indispensável e condicionante,
uma congruente flexibilidade das estruturas.

Fonte: Manual de Redação da Presidência da República.

Tentação (Clarice Lispector)

 
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. 
Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos. 
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo. 
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. 
A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam. 
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo. 
Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú.  Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. 
Mas ambos eram comprometidos. 
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-la dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás

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Conto extraído de LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Substantivos coletivos


Substantivos coletivos
Coletivo é o nome que expressa um grupo de seres da mesma espécie. Exemplos:
acervoobras de arte
álbumretratos, autógrafos, selos
alcateialobos
antologiatextos
armadanavios de guerra
arquipélagoilhas
arsenalarmas
assembleiade parlamentares, de membros de qualquer associação
atlasmapas
baixelaobjetos de servir à mesa
bancaexaminadores
bandamúsicos
bandopessoas, aves, malfeitores
bateriade canhões, de instrumentos de percussão, de perguntas
bibliotecalivros
bosqueárvores
buquêflores
cachobananas, uvas
cáfilacamelos
cambadadesordeiros, malfeitores
cancioneirocanções, poemas
caravanaviajantes, peregrinos
cardumepeixes
catervadesordeiros, malfeitores
cavalgadacavaleiros
choldrabandidos, malfeitores
cinematecafilmes
clerosacerdotes
colégioeleitores, cardeais
coletâneatextos, canções
colméiaabelhas
colôniaimigrantes, bactérias, insetos, pescadores
comitivaacompanhantes
comunidadecidadãos
congressoparlamentares, doutores
constelaçãoestrelas
cordilheiramontanhas
corjaladrões, desordeiros
coroanjos, cantores
discotecadiscos
elencoatores
enxameabelhas, marimbondos, vespas
enxovalroupas
esquadranavios de guerra
esquadrilhaaviões
exércitosoldados
fardotecidos, papéis, palha, feno
fatocabras
faunaanimais
feixelenha
floraplantas ou vegetais
florestaárvores
fornadapães, tijolos
frotanavios e veículos
galeriaobjetos de arte
grupopessoas ou coisas
hemerotecajornais e revistas
hordabárbaros, selvagens
juntamédicos, examinadores
júrijurados, pessoas que julgam
legiãoanjos, soldados, demônios
manadaelefantes, bois, búfalos
matilhacães
miríadeinsetos, estrelas
molhochaves
multidãopessoas
ninhadapintos, filhotes
nuvemgafanhotos
orquestramúsicos
pilhascoisas colocadas umas sobre as outras
pinacotecaquadros
plantelanimais de raça (bovinos ou equinos), atletas
plateiaespectadores
pragainsetos nocivos
prolefilhos
quadrilhaladrões, bandidos
ramalheteflores
rebanhobois, carneiros, cabras
réstiacebolas, alhos
revoadaaves
saraivadatiros, perguntas, vaias
seletatextos escolhidos
timejogadores
tripulaçãomarinheiros ou aviadores
tropasoldados, animais de carga
trouxaroupas
turmaestudantes, trabalhadores, amigos
universidadefaculdades
varaporcos